domingo, 31 de maio de 2015

A Terapia de Reposição Hormonal e o Câncer

CÂNCER

O câncer é um dos problemas de saúde pública mais complicados, devido abranger problemas epidemiológicos, sociais e econômicos. Mas, sabe-se que um terço dos casos de câncer poderiam ser prevenidos. 
Pode definir o câncer  a um conjunto de mais de 100 doenças, que têm em comum o crescimento desordenado de células, que através de metástases pode invadir outros tecidos. Certas características permitem caracterizar se um determinado tumor é um câncer: 
  • Formado por células anaplásicas;
  • Crescimento rápido;
  •  Localmente invasivo; 
  • Infiltra tecidos adjacentes;
  • Metástase frequentemente presente.

A pergunta essencial é se é possível prevenir o câncer? E de acordo com a Organização Mundial de Saúde 40% dos cânceres poderiam ser evitados. Tal prevenção está relacionada a estilo de vida e combate a agentes cancerígenos. Na imagem abaixo se observa que muitas das causas do câncer está ligada aos dois mecanismos já citados: 


TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL E CÂNCER
CÂNCER DO ENDOMÉTRIO
O endométrio é um tecido que reveste a parede interna do útero. O câncer do endométrio é muito comum em mulheres após os 60 anos, apenas 5% possuem menos de 40 anos. Um dos principais fatores de risco é o elevado aumento dos níveis de estrogênio e o baixo de progesterona, já que este protege o endométrio de crescimento anormal. Assim, a Terapia de reposição hormonal (TRH) é um fator de risco. 
De acordo com THE WRITING GROUP FOR THE PEPI TRIAL a TRH aumenta o risco em 2 a 3 vezes das usuárias terem câncer de endométrio. Já segundo HULLEY e colbs se o uso for por 10 anos o risco aumenta para 8 a 10 vezes maior quem em usuárias que não usam a TRH. 

CÂNCER DE MAMA
É o segundo câncer mais comum no mundo, afeta mais as mulheres. O envelhecimento é o principal fator de risco. Outros fatores são: 
  • menarca precoce;
  • não ter tido filhos;
  • idade da primeira gestação a termo acima dos 30 anos;
  • uso de anticoncepcionais orais, menopausa tardia e terapia de reposição hormonal. 
Novamente se observa a TRH como fator de risco. STEINBERG e cols concluíram que até 5 anos do uso de TRH não havia aumento na chance de risco de câncer de mama, mas após 15 anos de uso o risco era 30% maior. Já um estudo da MILLION WOMEN STUDY COLLABORATORS conclui que  66% de chance a mais de desenvolver câncer de mama. Além que o uso combinado de estrógeno e progesterona aumenta o risco em 2 vezes. O estudo também concluiu que a forma de administração da TRH contribui para um maior risco de se ter câncer de mama, se a via for por: 

  • implantes isolados aumentam o  risco em 65%
  • vias oral (32%);
  • transdérmica (24%). 

  • CÂNCER DE OVÁRIO
    Usuárias de TRH apresentaram risco 50% maior de morte por essa neoplasia quando comparadas a não-usuárias. 

    Frente a esses resultados, recomenda-se o uso da TRH por no máximo 5 anos. 


    REFERÊNCIA
    THE WRITING GROUP FOR THE PEPI TRIAL. Effects of Estrogen or Estrogen/Progestin
    Regimens on Heart Disease Risk Factors in Postmenopausal Women. The
    Postmenopausal Estrogen/Progestin Interventions (PEPI) Trial. JAMA, Chicago,
    v. 273, p. 199-208, 1995.
    HULLEY, S. et. al. Randomized trial of estrogen plus progestin for secondary
    prevention of coronary heart disease in postmenopausal women - HERS Study. 
    STEINBERG, K. K. et. al. A meta-analysis of the effect of estrogen replacement
    therapy on the risk of breast cancer. JAMA, Chicago, v. 265, p. 1985-1989, 1991. 
    MILLION WOMEN STUDY COLLABORATORS. Breast cancer and hormonereplacement therapy in the Million Women Study. Lancet, London

    6 comentários:

    1. A terapia é contra-indicada para mulheres com histórico de câncer de mama ou endométrio, trombose, distúrbios de coagulação sanguínea, infarto e sangramento genital de causa desconhecida. Na mulher com útero, associa-se estrogênio e progestagênio, pois o uso isolado do estrogênio eleva o risco de câncer de endométrio. É importante ainda observar o tempo de tratamento. Segundo o estudo norte-americano Women’s Health Iniciative, após 5 anos aumenta o risco de câncer de mama e doenças cardiovasculares.
      A maioria das mulheres colherá ganhos importantes com a terapia hormonal, feita com critério e acompanhamento médico. Mas haverá casos em que isso será contra-indicado. Não há uma resposta universal aplicável a todas as mulheres e cada uma deve ser avaliada de forma personalizada. Definir caso a caso os benefícios e riscos de acordo com o histórico de cada paciente é a melhor forma de se posicionar a favor ou contra a terapia de reposição hormonal.

      Fonte: http://www.einstein.br/einstein-saude/vida-saudavel/saude-da-mulher/Paginas/os-beneficios-e-riscos-da-reposicao-hormonal.aspx

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    2. Um estudo divulgado pela revista Lancet anunciado por europeus, que revisaram os dados de 52 estudos epidemiológicos com 21.488 mulheres na pós-menopausa, todas com câncer de ovário, identificou que o risco foi significativamente maior em usuárias do que em não usuárias de reposição hormonal. Outro achado importante desta investigação mostra que a duração e o período de uso de hormônios influenciam o risco para o câncer de ovário, que foi fortemente relacionado com o caráter recente de utilização, até cinco anos antes do diagnóstico, mesmo naquelas mulheres que fizeram reposição de curta duração, com média de três anos de uso. Os números não foram diferentes para a reposição à base de estrogênio ou para as terapias combinadas com progesterona, o que demonstra que qualquer esquema de reposição hormonal traz o mesmo risco associado para a neoplasia de ovário. O alerta vale para pacientes e médicos e põe em xeque a terapia tão empregada pelos ginecologistas para prevenir a osteoporose e auxiliar na gestão dos sintomas associados à menopausa. “Deve se pesar os ricos e benefícios quando se prescreve reposição hormonal”, diz o oncologista Antonio Carlos Buzaid, Chefe Geral do Centro Oncológico Antonio Ermírio de Moraes (COAEM).

      Fonte: http://www.news.med.br/p/medicaljournal/743497/uso+de+reposicao+hormonal+pode+aumentar+risco+de+cancer+de+ovario+meta+analise+de+52+estudos+epidemiologicos+publicada+pelo+the+lancet.htm

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    3. Dentro do assunto de terapia de reposição hormonal acho interessante comentar que os homens, de forma semelhante no caso das mulheres, possuem mais chances de desenvolver câncer de próstata ao realizarem tratamento para a andropausa através da terapia com andrógenos. Poucas pessoas sabem, mas a andropausa é um tipo de hipogonadismo testicular, onde o homem começa a produzir quantidades cada vez menores de testosterona e geralmente ocorre com o envelhecimento. Homens com níveis de testosterona ou IGF-1 séricos nos limites superiores da normalidade têm duas vezes mais risco de desenvolver carcinoma de próstata. A reposição com testosterona pode provocar discreto aumento dos níveis de PSA (de 0,3 a 0,4 ng/ml por ano); um aumento maior ou igual a 1,5 ng/ml em dois anos é indicativo de câncer de próstata. Além disso, é sabido que a terapia de reposição hormonal para homens também está relacionada a outros riscos como doença cardiovascular, policitemia hepatotoxicidade, apnéia do sono, entre outros.
      Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302005000200009

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    4. A aplicação clínica da terapia de reposição hormonal (TRH) é um bom exemplo de como a evolução do conhecimento médico pode ser tortuosa, e como a comunidade médica e científica pode subestimar por considerável período os efeitos de algumas intervenções. O uso de hormônios para aliviar a sintomatologia relacionada à menopausa é amplamente praticado em todo mundo, e potenciais efeitos adversos são de grande interesse para Saúde Pública devido ao potencial impacto numa grande população exposta. Nas últimas três décadas, a principal questão relacionada à TRH foi o risco de câncer do endométrio. O câncer endometrial é a sétima neoplasia maligna mais comum do mundo sendo dez vezes mais incidente em países desenvolvidos. O aumento na incidência da doença parece estar relacionado à epidemia de obesidade e à crescente expectativa de vida nas nações mais ricas. Cerca de 80% de todos os casos são adenocarcinomas de padrão endometrióide cuja relação com hiperplasia endometrial prévia é bem estabelecida. Os principais fatores de risco relacionados à hiperplasia endometrial e progressão para o câncer estão relacionados à hiperestimulação do endométrio pela exposição crônica aos altos níveis circulantes de estrógenos, sem oposição de efeitos antiproliferativos da progesterona. A questão imposta, portanto, é de qual a aplicação da reposição combinada com progesterona à luz dos dados atuais. Como justificar seu uso para prevenção do risco de carcinoma endométrio se os dados mais recentes chamam atenção para o maior risco de doença cardiovascular e câncer total? O consenso da Sociedade Brasileira do Climatério constata que não há justificativa para indicação de TRH para prevenção primária ou secundária de doença cardiovascular ressaltando o papel importante que a reposição hormonal pode ter especialmente quando indicada para atrofia genital e osteoporose. Entre as críticas levantadas às recentes publicações aqui relatadas, o consenso chama atenção para o fato de que o risco cardiovascular não foi avaliado apenas em mulheres na perimenopausa (50 a 55 anos). Desta forma, à luz dos conhecimentos atuais, o efeito protetor que a combinação de progestínicos apresenta sobre o risco de carcinoma do endométrio não parece contrabalançar uma série de outros efeitos adversos da TRH combinada, incluindo o risco de outros tumores malignos mais freqüentes. Portanto, o uso de TRH combinada não é justificado para a população feminina na pós-menopausa para prevenção primária de câncer do endométrio.

      http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2007001100009

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    5. Por muito tempo acreditou-se que a terapia de reposição hormonal aliada ao uso de progestinas aumentava o fator de proteção contra o desenvolvimento de câncer, descobriu-se que a presença das progestinas tem o efeito contrário ao que se acreditava, aumentando o pequeno risco já existente na terapia de reposição de estrogênio. Verificou-se no estudo que atestou os fatos previamente estabelecidos que mulheres que aderiram à terapia de reposição contínua combinada (estrogênio e progestina durante todo o ciclo) e à terapia sequencial de estrogênio com progestina (progestina presente em parte do ciclo apenas) tiveram um aumento considerável na densidade da mama em comparação às mulheres que foram tratadas com estrogênio somente. Além do uso em terapias de reposição, utiliza-se as progestinas como anticoncepcionais.

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    6. Tratando-se da questão de câncer no endométrio, é importante lembrar que o aumento na incidência da doença parece estar relacionado à epidemia de obesidade e à crescente expectativa de vida nas nações mais ricas. Cerca de 80% de todos os casos são adenocarcinomas de padrão endometrióide cuja relação com hiperplasia endometrial prévia é bem estabelecida. Os principais fatores de risco relacionados à hiperplasia endometrial e progressão para o câncer estão relacionados à hiperestimulação do endométrio pela exposição crônica aos altos níveis circulantes de estrógenos, sem oposição de efeitos antiproliferativos da progesterona. Estes incluem obesidade, dieta hiperlipídica e sedentarismo sendo que a conversão periférica no tecido adiposo de androgênios em estrógenos parece ser o principal mecanismo relacionado. No entanto, o risco causado pela TRH, como a propria postagem aborda, deve ser considerada. O principal achado em estudos sobre o assunto foi a observação de que qualquer um dos quatro esquemas de TRH aumenta o risco de câncer de mama quando comparadas às mulheres que jamais fizeram reposição hormonal. Além disso, este aumento é maior nos esquemas combinados. a TRH combinada pode até reduzir o risco de carcinoma do endométrio, mas aumenta o risco do câncer de mama e, como o câncer de mama é muito mais comum que o endometrial, isso significa que a TRH combinada está associada a um risco total de câncer maior. O risco geral de câncer é maior que o observado nas mulheres que jamais usaram reposição hormonal e, de modo surpreendente, também é maior quando comparado ao grupo de mulheres que usam apenas estrógenos.

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